Jesualdo e Ferguson contrariam a tendência actual de treinadores com sucesso precoce
Jesualdo Ferreira e Alex Ferguson voltam a encontrar-se esta quarta-feira no Dragão para decidir a passagem à meia-final da Champions. Seja qual for o resultado, está provado que a idade continua a ser um posto no futebol europeu.
Aos 62 anos, Jesualdo Ferreira terá no F.C. Porto-Manchester United de amanhã o maior teste internacional da sua longa carreira. Aos 67, Alex Ferguson terá mais uma das grandes decisões a que se habituou durante cerca de duas décadas no clube inglês. Independentemente do desfecho da eliminatória, está prometida a partilha de uma boa garrafa de vinho no final da partida, a exemplo do que aconteceu na semana passada em Old Trafford - e a verdade é que os dois técnicos já têm motivos para festejos. Ambos vivem momentos de grande sucesso, numa altura em que a tendência de treinadores mais jovens assumirem o comando das melhores equipas da Europa ganha cada vez mais seguidores.
De José Mourinho (Inter) a Guardiola (Barcelona), passando por Rafael Benítez (Liverpool) e Jurgen Klinsmann (Bayern de Munique), grandes clubes europeus têm no banco técnicos com menos de 50 anos, cujo estilo é bem diferente do de Ferguson, o "disciplinador", ou de Jesualdo, o "professor". De resto, o mesmo acontece nesta altura em Portugal, com o "trintão" Paulo Bento no Sporting, e o "quarentão" Quique Flores no Benfica.
"Tenho muito respeito por Alex Ferguson, pela sua inteligência e prestígio. Chamo-lhe 'boss' por causa disso. Pode ser que, quando eu chegar aos 60 anos, os mais novos também me chamem assim", afirmou Mourinho, na antecâmara do recente embate entre o United e o Inter, a contar para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, em que os "red devils" levaram a melhor. Jesualdo tem menor cotação internacional, mas a Europa vai mesmo ter de o conhecer bastante melhor no caso de o F. C. Porto seguir para as meias-finais...
De facto, o português e o escocês têm em comum a idade, mas não o percurso e os títulos. Alex Ferguson atingiu cedo o sucesso, quando treinou o Aberdeen no início da década de 80 e venceu três campeonatos e quatro taças da Escócia, para além de uma Supertaça Europeia e de uma Taça das Taças em 1983 (um ano antes de ter sido eliminado desta prova pelo F. C. Porto). No M.U. desde 1986, "Fergie" não teve vida fácil para chegar ao êxito em Old Trafford, mas, depois de quebrar, em 1993, um jejum de 26 anos sem vitórias da equipa na Liga inglesa, o técnico não parou de somar vitórias: já ganhou 34 títulos ao serviço dos "diabos vermelhos", incluindo dez da Premier League, dois da Liga dos Campeões e mais dois da Taça Intercontinental/Mundial de Clubes.
Jesualdo Ferreira chegou ao F. C. Porto em 2006 para suceder a Co Adriaanse, passados 25 anos desde o início da carreira de treinador, e a primeira época no Dragão trouxe-lhe finalmente um título. Para trás, ficaram duas décadas e meia de trabalhos relevantes nas selecções nacionais ou no Braga, mas também de insucesso no Benfica, onde apenas viveu momentos felizes como adjunto. Conseguido o bicampeonato pessoal na época passada, Jesualdo está à beira de consumar o feito notável de se tornar o primeiro técnico português a ganhar três títulos nacionais consecutivos.
A consagração internacional proporcionada por uma eventual eliminação do Manchester United, mesmo que depois os dragões não cheguem à final de Roma, deverá também permitir-lhe assinar o feito histórico de se transformar no primeiro treinador a viver mais de três temporadas seguidas no banco da equipa portista. Para tal, será necessário passar ao papel a renovação do contrato que termina em Junho, um tema que continua a ser tabu nas hostes azuis e brancas...
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